--- I ---
O reino de
Tumont era habitado por um povo milenar de grande sabedoria, os cultureks. O
maior tesouro para os cultureks eram as joias de luz. Por incontáveis
gerações estas joias foram cultuadas e reverenciadas como a base de toda sua
civilização.
Quanto mais
joias possuísse um culturek, mais afortunado este se sentia. O brilho de uma
joia de luz permitia a seu possuidor um grande poder de transformação. Este
poder era empregado não somente em benefício próprio, mas também de toda uma
comunidade.
Em
determinados momentos, os cultureks reuniam-se em grandes grupos para a
maior festividade de seu reino. Cada cidadão compartilhava o brilho de suas
joias, transferindo-o para outras destituídas de luz. Assim, mais e mais
cultureks multiplicavam suas joias e enriqueciam-se com poder emanado por
elas.
Alguns cultureks tinham um dom especial. Eram capazes de criar uma joia de luz.
Utilizando o brilho que emanava de seu interior, este culturek transformava
uma joia vazia, tornado-a capaz de brilhar. Era um brilho todo especial
oriundo de sua própria mente. Formava-se à partir do conjunto de
experiências e descobertas mas também do desejo de acrescentar algo de útil
e positivo a seu povo. Desenvolver este dom era um trabalho árduo para um
culturek podendo levar vários anos para adquiri-lo. Aqueles que o possuíam
eram estimados e respeitados por toda sociedade culturek.
Ao redor do
reino de Tumont existiam vastas áreas pouco exploradas. Estas regiões eram
habitadas pelos ignorks. Apesar de parecidos com os cultureks, os ignorks
temiam o brilho das joias. Eram incapazes de utilizar sua luz,
incorporando-a em suas mentes e vidas.
Inúmeras
vezes, os cultureks tentaram sem sucesso, estabelecer contato com os ignorks.
A reação destes tornara-se cada vez mais violenta à medida que a civilização
dos cultureks florescia e os ignorks permaneciam na mais completa
estagnação.
Após algum
tempo, os cultureks perceberam que os chefes tribais de seus vizinhos temiam
que as joias de luz diminuíssem o poder que possuíam sobre seus iguais. Pela
influência destes chefes, os ignorks destruíam todas as joias que lhes foram
oferecidas.
Enquanto as
terras de Tumont eram cultivadas e preservadas por seus habitantes, os
ignorks foram exaurindo lentamente as riquezas naturais das áreas em que
viviam. Sua população crescia e a busca por alimento e outros recursos
vitais promovia constantes batalhas entres os diferentes grupos de ignorks.
Os ignorks
cobiçavam as terras dos cultureks, mas temiam as máquinas criadas por eles.
Mesmo sendo fisicamente mais fortes e muito mais numerosos, os ignorks não
ousavam atacar o reino de Tumont. Os cultureks eram capazes de lançar pedras
que explodiam como um vulcão, de colocar fogo na água, de controlar animais
selvagens, utilizando sua força e velocidade e ainda produzir materiais mais
resistentes que a madeira que os ignorks usavam em suas lanças e flechas.
Esta
realidade perdurou por várias gerações até que vindo de uma região muito
além das terras dos ignorks, surgiu um poderoso feiticeiro. Seu nome era
Dommagu. Senhor de grande magia, Dommagu não só possuía um grande controle
sobre diversos animais selvagens, mas também era capaz de invocar a presença
de todos os monstros e criaturas malignas que povoavam a mente dos ignorks.
Diante de
tamanho poder e da promessa da conquista das terras dos cultureks, os chefes
tribais dos ignorks submeteram-se às ordens de Dommagu.
O que se
seguiu foi um violento conflito entre os dois povos. Hordas de ignorks
reforçadas por inúmeras criaturas monstruosas invadiram as fronteiras do
reino de Tumont. Mesmo avessos à violência, os cultureks reagiram. Com o
poder das joias de luz, criaram máquinas e armas cada vez mais poderosas e
fizeram frente ao avanço das forças invasoras.
Todas as
tentativas dos cultureks para por fim à guerra foram rechaçadas pelos
ignorks. Dommagu interpretava isso como um sinal de fraqueza e instigava
ainda mais os ignorks para a luta. Milhares deles morreram em inúmeras
batalhas e a vitória que parecia fácil foi se tornando cada vez mais
distante para os agressores.
Quando uma
máquina de guerra, ao ser destruída ou danificada, rapidamente era
substituída ou reparada pelos defensores. Poucos baixas ocorriam entre os
soldados de Tumont. Estes possuíam armaduras resistentes aos ataques das
flechas e lanças dos ignorks e as feras controladas por Dommagu eram mortas
ou afugentadas pelas pedras explosivas lançadas a grandes distâncias pelos
cultureks.
O medo, a
inveja e o ódio que os ignorks cultivavam pelos cultureks ampliou-se
consideravelmente. Este fato reforçava o poder do terrível feiticeiro.
Dommagu deliciava-se ao falar para centenas de ignorks avivando seus mais
profundos temores, buscando dentro de cada um deles as trevas que tanto
nutriam seu ser.
Antes que se
dessem conta, todos os chefes tribais perderam sua influência. Foram
esquecidos, perdidos em meio à escuridão que envolvia a mente dos ignorks.
Agora para eles só existia Dommagu. Os ignorks atrelaram seu destino e suas
vidas à vontade de apenas um homem. Afastaram quaisquer dúvidas que lhes
surgissem. Suas mentes foram anestesiadas pelas palavras do feiticeiro, se
entregando a mais profunda ausência de luz.
Apesar de
seu poder, Dommagu percebeu que não poderia derrotar os cultureks. Estes não
eram afetados por sua magia como os ignorks, e por mais que se esforçasse, o
feiticeiro não encontrava em suas mentes os mesmos pensamentos tortuosos,
impregnados de mitos e lendas, tão comuns aos reinos que conquistara.
Dommagu era
imortal. Por incontáveis gerações sua presença promovia a discórdia e a
desesperança entre os povos que o conheceram. Sem que pudessem evitar, estes
povos se aniquilavam, mergulhados na terrível sombra que cercava o
feiticeiro.
Mas os cultureks eram um perigo real para Dommagu. Se o brilho das joias de luz se
espalhasse para as terras além de Tumont, seus dias estariam contados.
Pensando nisso, mas incapaz de destruir estas joias, o vilão reúne toda sua
energia em uma poderosa magia, lançando-a sobre seus inimigos.
Naquele
momento, por todo o reino, os cultureks foram acometidos por uma assustadora
sensação. Algo de extremo valor lhes havia sido tirado. Foram incapazes de
perceber de imediato o porquê de sua perda, mas os dias que se seguiram
foram os mais angustiantes em toda a longa história de seu povo.
Dommagu
ficara bastante debilitado. Sua energia vital quase se esgotara, mas ele se
recuperaria com o tempo. O feiticeiro sorria em seu íntimo. Sabia que
gradualmente os cultureks perderiam a guerra sendo finalmente derrotados.
Em Tumont,
os primeiros a identificar o mal que os afligia, pertenciam a um grupo
especial de cultureks. Sua função era transmitir aos jovens do reino a
maneira pela qual o brilho das joias da luz podia ser assimilado. Estes
cultureks eram de grande importância, pois não só compartilhavam a
compreensão das joias, mas muitos deles eram responsáveis pela criação e
transformação da luz emanada por elas. Com grande pavor, eles perceberam que
não podiam mais receber das joias aquilo que as tornava tão preciosas.
Uma onda de
desespero se espalhou rapidamente por toda Tumont. Os cultureks souberam que
não apenas alguns, mas todos no reino tinham sido acometidos pelo terrível
mal. A partir daquele momento, as joias de luz não os auxiliariam mais em
suas vidas. A luz proveniente delas não mais inundava suas mentes, cada qual
lhes transmitindo uma parcela da riquíssima sociedade culturek. Agora os
cultureks sentiam-se sós em si mesmos como nunca em suas vidas. As joias
representavam e armazenavam toda uma gama de experiências e descobertas,
todas as informações que permitiam a um culturek conhecer o passado de seu
povo e ter confiança em seu futuro. Um futuro que fora seriamente
comprometido pela sombra maligna de Dommagu.
--- II ---
Vários anos
se passaram. O flagelo que enegrecia as mentes dos cultureks não se
dissipara. Como a luz das joias não podia mais ser compreendida, era
impossível instruir como antes os mais jovens de maneira a substituir os
cultureks que morriam. Sua sociedade era complexa e ainda havia uma guerra
contra os ignorks que fustigava as fronteiras do reino. As máquinas já não
eram reparadas como no passado e a produção de alimentos e outros bens
começara a ficar comprometida. Os habitantes de Tumont tentaram sem sucesso,
transmitir oralmente suas ideias, mas estas se perdiam ou se tornavam
confusas ao passarem de indivíduo para indivíduo.
Agora os
cultureks dependiam desesperadamente de seus anciãos. Antes reverenciados
pela luz que emanavam, oriunda de décadas de convívio com as joias, passaram
a ser os únicos responsáveis pelo enorme conhecimento de seu povo. Eram eles
a quem os mais jovens recorriam para tentar salvar seu reino. Infelizmente
por fim, os anciãos morreram. Ano após ano, os cultureks foram perdendo
aqueles que ainda guardavam grande parte da luz de Tumont. Antes orgulhosos
de suas conquistas e realizações, os cultureks perceberam com grande pesar
que sua civilização estava fadada ao desaparecimento.
Em meio ao
caos que começava a se espalhar em muitos pontos do reino, oriundo da
fragmentação da sociedade culturek, um indivíduo se empenhava em uma árdua
tarefa. Este culturek, conhecido apenas como guardião, percorria toda Tumont,
cidade após cidade, vila após vila, recolhendo todas as joias de luz que
pudesse encontrar. O guardião fora um aprendiz do último ancião a guardar o
brilho de seu povo. Tristemente, o aprendiz lamentava não ter sido capaz de
absorver de seu mestre tanto quanto este poderia lhe oferecer. A vida em
Tumont era cada vez mais difícil e os últimos anos do ancião o condenara a
sofrer moléstias que no passado seriam facilmente debeladas, mas que agora
representavam uma provação a mais para os cultureks.
As joias
coletadas pelo guardião foram guardadas em um castelo desabitado. Mais e
mais cultureks abandonavam os campos e se refugiavam nas cidades. As
debilitadas forças de Tumont não eram mais capazes de impedir que grupos de
ignorks avançassem e saqueassem as vilas e fazendas do reino.
O guardião
agarrava-se a um fio de esperança. Seu mestre lhe ensinara muito sobre a luz
que as joias emanavam. O aprendiz nunca fora capaz de perceber este brilho,
mas sabia que o destino de seu povo permanecia ligado a elas.
Antes de
morrer, o ancião lhe presenteara com uma joia de luz. O guardião olhou para
ela em busca da luz que nunca vira. Infelizmente, como nas outras, nada
percebeu. Seu mestre lhe pedira que a guardasse sempre consigo e que nunca
se desfizesse dela. Sem entender o significado daquilo, o aprendiz concordou
gentilmente.
No interior
de seu castelo o guardião olhava para centenas de joias de luz acomodadas em
enormes estantes. Ele estava cercado por elas, fruto de inúmeras viagens
através do reino. Seu corpo e sua mente estavam exaustos. Mais uma vez o
aprendiz se perguntara por que fizera aquilo. Sentia-se como um tolo. Há
muito tempo as joias haviam sido relegadas pelos cultureks a uma simples
lembrança de um passado glorioso. Apesar disso, ao receber aquela joia que
trazia consigo, o aprendiz fora tomado por uma estranha sensação que de
forma inexplicável lhe motivara em sua tarefa.
Agora,
rodeado por uma grande quantidade de joias, o guardião se aproxima de um
rústico pedestal, localizado no centro do maior salão do castelo. Naquele
pedestal, criado com suas próprias mãos, o aprendiz deposita a joia de luz
que recebera de seu ancião. Por um instante o aprendiz fecha seus olhos. Um
leve tremor percorre seu corpo. Sua mente divaga sobre seu futuro incerto.
Ele lastima a sorte de seu povo e naquele momento decide voltar à capital do
reino e se unir às últimas forças de defesa de Tumont. Lentamente abre seus
olhos e contempla mais uma vez as joias em suas prateleiras.
Como por um
encanto, vindo de todas as direções, sons de palavras desconhecidas invadem
sua mente. Assustado, o guardião apóia-se no pedestal e seus olhos fixam-se
na joia guardada ali. Um impulso incontrolável o leva a segurá-la. Suas mãos
percorrem toda sua extensão e em um movimento brusco, o guardião abre a
joia. Como qualquer outra, ela estava repleta de inscrições e símbolos que
se tornaram incompreensíveis para todos os cultureks, após o poderoso
feitiço de Dommagu ter sido lançado.
Maravilhado,
o aprendiz deixa-se dominar por uma torrente de luz que de forma quase
assustadora invade seu ser. Traços e linhas começam a se rearranjar criando
imagens de figuras que se entrelaçavam em inscrições formando associações na
mente do aprendiz. Este finalmente percebe que em suas mãos estava uma das
joias primordiais. Era uma das primeiras joias de luz criadas pelos
cultureks há centenas de anos e que permitiram a seu povo trilhar a longa
jornada que os separaram de seus ancestrais ignorks.
Naquele
castelo, as muitas joias reunidas foram capazes de neutralizar a magia do
feiticeiro, despertando a luz no interior daquela joia especial. Aos poucos,
o guardião pode compreender as informações contidas nas diversas camadas da
joia. Sua mente ávida de saber imobiliza-o por várias horas ali mesmo,
sentado no meio do salão.
Finalmente o
aprendiz levanta-se com certo esforço e titubeante aproxima-se da estante
mais próxima. Retira lentamente uma das joias ali alojadas. Com suas mãos
trêmulas, abre o objeto observando-o por alguns instantes. De forma tênue,
mas feliz, um sorriso marca-lhe o semblante.
--- III ---
Desde que
atacara os habitantes de Tumont com sua magia, Dommagu sabia que os havia
ferido mortalmente. No decorrer dos anos, o terrível feiticeiro começara a
perceber que um número crescente de cultureks manifestava pensamentos e
temores irracionais semelhantes aos que tanto apreciava nos ignorks. A
inabalável convicção que os cultureks nutriam por seus dons e por sua
capacidade estava desaparecendo. Seria uma questão de tempo até que mais
este povo fosse subjugado pela sua escuridão.
Enquanto
perscrutava os inimigos com seu poder, Dommagu foi atingido por um raio de
luz que surgiu como um relâmpago em seu interior. Este brilho intenso
queimou sua mente de forma dolorosa assustando-o como nunca em sua longa
existência.
Ao se
recuperar, o feiticeiro percebeu que em alguma parte de Tumont, a quase
extinta luz dos cultureks havia sido reavivada. Procurando concentrar-se,
foi capaz de identificar o local. Não era em nenhuma cidade ou vila. Parecia
ser em uma região pouco habitada. Esforçando-se ainda mais, o vilão pode
visualizar um castelo com fumaça em uma de suas chaminés. Ao tentar penetrar
no castelo com sua mente, novamente o mesmo raio de luz o atinge, porém
agora de maneira tão forte quanto um golpe de uma espada em chamas. Com um
grito de dor, Dommagu é jogado para trás sendo arremessado violentamente ao
chão.
O feiticeiro
nunca presenciara tal poder, nem mesmo quando conhecera os cultureks. Esta
força possuía uma essência oposta a sua, igual a que as joias de luz
produziam nos habitantes de Tumont, porém inúmeras vezes mais poderosa. Um
calafrio incontrolável percorre seu corpo. Desesperado, Dommagu procura uma
explicação. Sua maior magia se dissipara ao redor daquele castelo. O que
quer que seja, poderá ser aquilo que causará sua destruição.
Temendo que
seu novo e inesperado inimigo torne-se mais forte, o feiticeiro reúne os
guerreiros mais poderosos e as mais terríveis criaturas malignas de seu
exército. Decidido agora a não mais ditar ordens à distância, Dommagu toma a
frente de seus comandados e marcha sobre Tumont. Em poucos dias estaria nas
cercanias deste misterioso castelo e desfecharia o ataque mais violento que
fosse capaz.
Por todo o
reino, a notícia de que o chefe dos ignorks em pessoa se envolveria na
batalha leva os cultureks a buscarem suas últimas forças e as enviarem para
a capital. Soldados cansados e debilitados por anos de guerras se posicionam
em volta da principal cidade de Tumont. Seus rostos exibem a certeza da
derrota que viria após o golpe de misericórdia das forças invasoras.
Atônitos, os
defensores vêem no horizonte, seus inimigos passarem ao largo e se
encaminharem para o interior do reino. Sem que soubessem, a maior batalha da
história dos cultureks ainda estaria por vir.
--- IV ---
A mente do
guardião parecia querer explodir. Centenas de anos em descobertas e
realizações podiam ser expostos pelas joias de luz. Quase em desespero, o
aprendiz procura uma informação que lhe permitisse salvar seu povo. Todos em
Tumont temiam que em breve os ignorks atacariam a capital do reino e
destruiriam o último elo que mantinham os cultureks unidos. Após isso, a
fragmentação de sua civilização seria irreversível.
As horas se
passam. O guardião dormira e comera muito pouco. Apesar da dispensa ainda
possuir alimentos, abandonados pelos antigos donos do castelo, não havia
tempo para se alimentar corretamente. Aos poucos, foi percebendo que por
mais que se dedicasse, não viveria o suficiente para absorver todo o
conhecimento guardado nas joias. Precisaria de muita ajuda para esta tarefa,
porém não ousaria abandonar o castelo naquele momento. O destino de seu povo
estava em suas mãos e as joias de luz mais do que nunca deveriam ser
protegidas.
Mergulhado
em seus pensamentos, o aprendiz não percebe um leve brilho que se espalha
por sobre as joias em suas estantes. Este tremeluzir aumenta de intensidade
e como um relâmpago vindo de várias direções lança-se sobre uma espada presa
na parede. Assustado, o guardião tropeça e cai. Fica prostrado alguns
segundo no chão observando aquela simples espada que fora colocada na parede
de forma ornamental. A luz que percebera por uma fração de segundos sobre as
joias desaparecera. Agora, somente a espada brilha, circundada por um halo
de luz.
O guardião
aproxima-se da arma reluzente. Em seu íntimo, percebe que tal energia não
lhe será perigosa. Decidido, segura a espada e instintivamente a ergue. Um
brilho intenso se irradia da lâmina iluminando todo o salão. Ao contrário de
cegá-lo, esta luz clareia sua mente de forma assombrosa. Seus medos, receios
e dúvidas oriundas de sua ignorância do mundo à sua volta desaparecem como
de imediato. O aprendiz percebe que aquela espada continha em seu interior
um incrível poder de transformação. O vasto saber dos cultureks invade seu
ser permitindo-o compreender que em suas mãos estava a materialização do
conhecimento de toda uma civilização. Nem o mais terrível vilão poderia
enfrentar tamanha força. Dommagu encontraria seu fim nesta espada de luz.
Seu povo e os ignorks não seriam mais oprimidos e subjugados pela sua
escuridão.
Ele fora o
responsável pelo despertar da luz na joia primordial ao reunir centenas de
joias ao seu redor. Com isso, o encanto maligno de Dommagu havia sido
quebrado. O aprendiz do último ancião percebe que a luz das joias flui
através de seu ser até alcançar a espada. Com a arma em punho, resolve sair
do salão principal do castelo, com o intuito de retornar para capital e
apresentar a todos a salvação de seu combalido povo.
Poucos
metros à frente, já fora do salão, o guardião é atingido por uma
desagradável surpresa. Subitamente a arma perde seu brilho, voltando a ser
um simples metal. Embora aturdido, sua mente aguçada pelas joias de luz o
faz entender o significado de tudo aquilo. Ele seria o elo de ligação entre
as joias e a espada, devendo permanecer sempre junto a elas. Agora, ao mesmo
tempo em que percebe totalmente o significado daquela arma, o guardião
compreende também suas limitações. Precisaria que outros cultureks
utilizassem aquela ferramenta no combate ao terrível chefe dos ignorks. Não
poderia ele, por si só, fazê-lo.
Perdido em
suas divagações, o aprendiz é despertado pelo violento som de batidas no
portão principal do castelo. Com passos largos, ele alcança uma janela
próxima e olha para baixo na direção da passagem que dá acesso ao seu
reduto.
Alguns
jovens cultureks esmurravam em desespero o velho portão de madeira. O medo
estava estampado em seus rostos. Continuamente, vários deles olhavam para
trás e gritavam por ajuda. Mais ao longe, o guardião descobre o motivo de
tanta aflição.
Em uma
pequena elevação no horizonte, dezenas de ignorks fortemente armados e
várias criaturas monstruosas se aproximavam rapidamente. Em meio a eles,
mais atrás, um homem imponente e arrogante podia ser visto no alto de uma
carruagem fortificada. Não era um ignork comum. Era o próprio Dommagu que
tanto temor incutia nos cultureks.
Com um
estrondo, o portão cede à força dos jovens e cai ao chão. Estes correm por
um pequeno trecho e penetram no castelo. Decidido a auxiliá-los, o guardião
vai ao encontro, sabendo que o destino os colocara em seu caminho. Seu corpo
e sua mente se preparam para o que está por vir. A derradeira batalha entre
os cultureks e os ignorks começaria agora. Uma batalha entre as forças do
bem e do mal. Entre as trevas e a luz...