A habilidade na produção dos meios de subsistência desempenha um papel decisivo no grau de superioridade e domínio do homem sobre a natureza.Por isso, todas as épocas de progressos da humanidade coincidem, de modo mais ou menos direto, com as épocas em que foram ampliadas as fontes de abastecimento do homem.
Engels apoia-se na divisão da evolução da espécie humana de
Morgam, para quem há três estágios na evolução da espécie humana, de acordo com
o nível obtido na produção dos meios de subsistência: a) selvagem; b) barbárie
e; c) civilização.
O estágio selvagem é o começo da existência humana. O homem
ainda é um coletor e, com a descoberta do fogo, passa a ser caçador e pescador.
A união sexual é grupal e não há nenhuma restrição à prática sexual.
O estágio da barbárie é o período que se iniciou com a
dominação da criação e da agricultura, em que o homem consegue incrementar a
produção da natureza por meio do trabalho.
As primeiras tribos conseguem domesticar os animais, que
passam a ser criados em cativeiros. Domesticada a fêmea do búfalo, passa a dar
uma cria por ano, além de fornecer o leite. Certas tribos, mais adiantadas,
fizeram da domesticação e criação de gado sua ocupação principal.
O clima, em determinadas regiões, não permite a vida pastoril
durante o ano todo, a menos que você plante forragem e acumule-a para usar no
inverno ou na seca mais rigorosa.
Se, a princípio o grão foi recolhido e plantado para
alimentar o gado, não tardou também a ser alimento para o homem. A terra
cultivada continuou a ser ainda por algum tempo, propriedade da comunidade, mas
no ocidente, logo se tornou, propriedade privada de determinado individuo.
O desenvolvimento dos ramos da produção, criação de gado,
agricultura e ofícios manuais, tornou o trabalho do homem capaz de produzir mais
do que o necessário à sua sobrevivência.
O providenciar a alimentação fora sempre assunto do homem e
os instrumentos necessários para isso eram produzidos por ele e ficavam sendo
sua propriedade. Os rebanhos constituíam-se em novas fontes de alimentação, sua
domesticação e posterior criação competia ao homem. Por isso o gado lhe
pertencia, assim como as mercadorias e os escravos que obtinha em troca dele.
Todo o excedente pertencia ao homem.
O “selvagem” – guerreiro e caçador – conformara em ceder o
primeiro lugar à mulher, o pastor, envaidecido com sua riqueza, assume agora a
primazia. O trabalho doméstico da mulher perdia sua importância, comparado ao
trabalho “produtivo” do homem.
A emancipação da mulher só se tornará possível quando ela
participar, em larga escala, da produção e quando o trabalho doméstico lhe tomar
um tempo insignificante.
Na forma de casamento há uma evolução rumo ao casamento
individual (sindiasmica) embora não seja ainda majoritária e, o direito ainda é
materno, mas a riqueza provocada pela criação de gado faz surgir o direito
paterno, cujo desenvolvimento se dá com a civilização.
A civilização é o período em que o excedente faz surgir à
produção mercantil, voltada para o mercado, cujo desenvolvimento ocorre desde o
aparecimento do Mundo Clássico e, que deu origem a nossa sociedade.
Em todos os estágios anteriores da sociedade, a produção era
essencialmente coletiva e o consumo se realizava sob um regime de distribuição
direta dos produtos, no seio de pequenas ou médias coletividades comunistas.
Essa produção coletiva era levada a cabo dentro dos mais estreitos limites, mas
eram senhores do processo de produção e de seus produtos. Sabiam o que era feito
do produto: consumiam-no, ele não saia de suas mãos.
Com a produção mercantil – produção não mais para o consumo
pessoal e sim para troca – os produtos passam necessariamente de umas para
outras mãos. O produtor separa-se de seu produto na troca e já não sabe o que é
feito dele. Os comerciantes são muitos e, nenhum deles sabe o que o outro está
fazendo. As mercadorias agora não passam apenas de mão em mão, mas também de
mercado em mercado.
Até hoje o produto ainda domina o produtor, até hoje, toda a
produção social ainda é regulada, não segundo um plano elaborado coletivamente,
mas por leis cegas, leis estas que atuam com a força dos elementos, que, em
última instância, criam as tempestades dos períodos de crises comerciais.
Vimos como, numa fase bastante primitiva do desenvolvimento
da produção, a força de trabalho do homem se tornou apta a produzir
consideravelmente mais do que era preciso para a manutenção do produtor e como
essa fase de desenvolvimento é, no essencial, a mesma em que nasceram a divisão
do trabalho e a troca entre indivíduos. Não demorou muito a descobrir que também
o homem podia chegar a ser objeto de troca e consumo.
Com a escravidão, que atingiu o seu mais alto grau de
desenvolvimento sob a civilização, veio a primeira grande divisão da sociedade,
em uma classe que explorava e outra que era explorada. Essa cisão manteve-se
através de todo período civilizado. A escravidão é a primeira forma de
exploração, a forma típica da Antiguidade Clássica, sucedem-na a servidão, na
Idade Média e, o trabalho assalariado nos tempos modernos.
O estágio da produção de mercadorias com que começa a
civilização caracteriza-se, do ponto de vista econômico pela introdução da moeda
metálica e, com ela, o capital em dinheiro, os juros e a usura;.dos comerciantes
como classe intermediária entre produtores;.da propriedade privada da terra e,
com ela, a hipoteca; e, do trabalho escravo como forma dominante de produção.
A força de coesão da sociedade civilizada é o Estado, uma
máquina essencialmente destinada a reprimir a classe oprimida e explorada.
Baseada nesse regime a civilização realizou coisas de que a
antiga sociedade gentílica jamais seria capaz. Mas as realizou pondo em
movimento os impulsos e as paixões mais vis do homem. A ambição mais vulgar tem
sido a força motriz da civilização, seu objetivo dominante é a riqueza, mas não
a da sociedade como um todo e sim de tal ou qual mesquinho indivíduo.
Desde que a civilização se baseia na exploração de uma classe
por outra, todo o seu desenvolvimento se opera numa constante contradição. Cada
progresso na produção é ao mesmo tempo um retrocesso na condição da classe
oprimida, isto é, da imensa maioria.. Mas não deve ser sempre assim. O que é bom
para a classe dominante deve ser bom para a sociedade. Por enquanto, o progresso
da civilização encobre os males que traz consigo, ocultando-o com o manto da
caridade, enfeitando-os ou negando-os. Isso culmina com a declaração de que a
classe opressora explora a classe oprimida, exclusiva e unicamente, para o
benefício desta.
Contudo, chegará o tempo em que a razão humana será
suficientemente forte para dominar a riqueza e fixar as relações do Estado com a
propriedade que ele protege e o limite dos direitos dos proprietários. Os
interesses da sociedade são superiores aos do indivíduo e, entre eles deverá
estabelecer uma relação justa e harmônica.
A democracia na administração, a fraternidade na sociedade, a
igualdade de direitos e a instrução geral farão despontar a próxima etapa
superior da sociedade, para a qual tendem a experiência, a razão e a ciência.
Será, no dizer de Morgam, um reviver da liberdade, igualdade e fraternidade das
antigas gens, mas sob uma forma superior.
José Tadeu Cordeiro, adaptado de Engels, F. A Origem da
Família, da Propriedade Privada e do Estado.
Interpretando o texto
1.Qual a relação entre as épocas de progresso da humanidade com o aumento das
fontes de abastecimento do homem?
2.Quais os estágios da evolução da espécie humana, segundo Morgan? Explique-os.
3.Qual a importância do domínio da agricultura e da criação de gado para a
espécie humana? O que este domínio acarretou a espécie humana?
4.Explique a organização da produção e da propriedade nos estágios da evolução
do homem.
5.O que significa a expressão: “o produto ainda domina o produtor”.
6.Qual o estágio da produção de mercadorias com que se inicia a civilização?
7. “Quando a razão humana for suficientemente forte” quais as relações de
produção e quais os valores que prevalecerão na sociedade?
8.Quais as críticas de Engels “a civilização”? Qual a contradição provocada pelo
progresso da produção durante a “civilização”? Como se manifesta à esperança de
melhores dias para a “civilização humana”?