O feudalismo apareceu na Europa Ocidental, a partir do século X e, desenvolveu-se nos dois séculos seguintes, para chegar ao apogeu no século XIII. O feudalismo tem suas origens na combinação do colonato romano (que sucedeu ao escravismo na Roma Clássica) e, num costume germânico de doar terras aos guerreiros.
Caracterizou o feudalismo: ser uma sociedade eminentemente
rural, dividida em: servos (trabalhadores), senhores feudais (cavalaria) e os
cléricos (membros da Igreja de Roma) e o poder político descentralizado (o poder
estava no feudo).
Os servos trabalhavam uma parte dos dias da semana para o
senhor feudal (corvéia) e os dias restantes (da semana) numa parte da terra
reservada para seu sustento e de sua família. Perry Anderson, ressalta a
importância do servo trabalhar alguns dias da semana para si, porque ele passa a
ter interesse em aumentar sua produção, o que de fato ocorreu, com o
desenvolvimento de novas técnicas e da experiência acumulada.
Autores consagrados, como Anderson e Karl Marx, advertem que
o progresso ocorrido na produção durante os séculos XII e XIII está mais ligado
às relações econômicas, entre o servo e o senhor feudal, do que às novas
tecnologias (charrua de ferro, o cavalo que substitui o boi como animal de
tração, a rotação de culturas, o adubamento folhar, a adoção em larga escala da
azenha, etc.) e, que estas (novas tecnologias) é um reflexo das novas relações
econômicas (feudais).
Exemplo disso é a organização obtida pelo senhor feudal. Como
ele dispõe de uma vasta área submetida à sua exploração, pode introduzir a
azenha (máquina de moer o trigo), dando origem a um dos mais detestáveis
monopólios de exploração: o servo era obrigado a levar seu trigo para moer na
azenha do senhor feudal, deixando lá parte do seu trigo pelo “direito” de usar a
azenha.
O aumento da produção, principalmente de trigo (cereal que
era à base da alimentação do camponês) levou a ocupação de terras incultas e de
terras de difícil conversão à agricultura. Entre o ano 1.000 e 1250 houve um
grande movimento de colonização da Europa, ao mesmo tempo em que a população
européia saltava de 20 milhões de habitantes (970) para 54 milhões em 1348
(quando a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos assolaram a Europa).
Foi no meio dessa sociedade em crescimento que o comércio
ganhou nova vida e as cidades desabrocharam, como encruzilhadas de mercados
regionais e de centros de manufaturas, ensejando a crise do feudalismo.
1º O desenvolvimento do comércio Dois grandes movimentos
comerciais se manifestaram na periferia da Europa Continental: um no Mar
Mediterrâneo (Sul) e outro no Mar Báltico (Norte).
A irrupção islâmica na Bacia do Mediterrâneo, no século VII,
fechara-o aos cristãos do Ocidente, principalmente o mar Tirreno, enquanto o mar
Adriático e o mar Egeu mantinham um comércio pouco relevante que, no entanto,
favoreceu o desenvolvimento de Veneza.
Esta, aos poucos se transforma numa potência marítima,
junta-se aos bizantinos (Bizâncio) e consegue o monopólio do comércio em todo
Império Bizantino. Enquanto isso Pisa une-se aos genoveses, para derrotar e
saquear o infiel muçulmano (infiel ao cristianismo) e, construir a Catedral de
Pisa, logo após o saque contra a Mesquita de Mehdia, em 1087. Além dos saques,
os vencedores impõem-lhes contratos de comércio que lhes são amplamente
vantajosos.
Em 1097, Genova enviou aos cruzados, sitiados em Antioquia,
reforços e víveres. Após a tomada de Jerusalém, suas relações com o Oriente
multiplicaram-se rapidamente. Por outro lado, Pisa dedicava-se com crescente
entusiasmo ao abastecimento dos Estados fundados, na Síria, pelos
cruzados.Marselha e Barcelona lançam os fundamentos para o comércio. Todo o
Mediterrâneo abre-se ao comércio com o Oriente.
As cidades mediterrânicas não deixaram de colaborar com as
Cruzadas, até o dia em que São Luis é derrotado em Tunis (1270), marcando
definitivamente o malogro do pretendido domínio religioso do Oriente.Os lucros
obtidos pelos provedores da guerra (as cidades mediterrânicas) foram, no
entanto, abundantes.
O resultado duradouro e essencial das cruzadas foi o de ter
dado as cidades italianas e, em menor grau, da Provença e da Catalunha o domínio
do Mediterrâneo.
O reinicio do comércio marítimo, coincidiu com a penetração
para o interior do continente europeu. A agricultura, solicitada pelo
intercâmbio, renova sua organização e passa a produzir também para o comércio.
Mas, também se vê o incremento da atividade manufatureira, que se volta para o
comércio de longa distância.
As especiarias (pimenta, cravo. canela, etc.) são a um só
tempo os primeiros objetos desse comércio e, até o final do século XVI, não
deixaram de representar sua maior riqueza. Primeiro Gênova, depois Veneza e Pisa
e, finalmente Lisboa e Antuérpia se enriqueceram com o seu comércio. Além das
especiarias, as importações européias concentravam-se no algodão e na seda, à
medida que as manufaturas italianas e depois a continental se interessavam pelos
respectivos produtos. Em troca das importações orientais, os europeus
(genoveses, venezianos, etc.) levavam os fustões tecidos na Itália e, a partir
do século XIII, os tecidos da França Setentrional e da região de Flandres. Após
a decadência da Feira de Champagne (século XIII), os tecidos de Flandres, cuja
suavidade, flexibilidade e a beleza das cores não tinham rival na Europa,
desempenharam um papel tão importante quanto ao das especiarias no comércio.
O florescimento da manufatura têxtil na região de Flandres
representou o estabelecimento dos mercadores em Bruges (hoje, situada na
Bélgica). Desde a segunda metade do século XIII, a feitoria da Hansa (liga de
mercadores do norte da Europa) instalada em Bruges, torna-se tão importante
quanto às cidades Mediterrânicas, e, às vezes, superando-as.
Os rios Wesser, Elba e Oder eram as vias de comunicações por
meio dos quais o seu comércio penetrava na Alemanha. As exportações da Hansa
consistiam no trigo da Prússia (Alemanha), peles e mel da Rússia, além de
madeiras para construção, pescados secos e arengue salgados do Norte da Europa,
lã da Inglaterra e, o sal e o vinho da França. Todo esse tráfico girava em torno
de Bruges, situada a meio caminho entre o norte da França (feiras de Champagne)
e o Báltico.
O volume do comércio da Hansa igualava e, talvez superasse o
comércio do Mediterrâneo. Mas os capitais empregados eram menores. O valor das
mercadorias transacionadas não permitia realizar os grandes lucros resultantes
das vendas de especiarias.
De qualquer maneira, é o intercâmbio comercial o responsável
pelo escoamento da produção manufatureira, principalmente de tecidos de lã, que
produz uma classe burguesa cada vez mais rica e, cidades cada vez mais opulentas
e esplendorosas, como as cidades alemãs, dos Países Baixos, da Inglaterra e da
França, sem contar, evidentemente, as cidades mediterrânicas. É nestas cidades,
que o Renascimento e, depois a Reforma fará surgir o mundo moderno, mas as bases
já estavam lançadas.
2.O desenvolvimento das cidades: As cidades criadas durante a
Idade Média eram, antes de tudo, pontos de comércio e de manufaturas. Com
raríssimas exceções – como Roma, sede da Igreja Católica e, Londres e Paris,
sedes das monarquias – a importância das cidades estavam ligadas à área de sua
influência econômica.
A principio as cidades representam a oportunidade de absorver
os produtos dos camponeses dos arredores. Assim que as primeiras comunas urbanas
ofereceram um mercado exterior aos camponeses, desapareceu a estagnação
econômica dos campos.
A administração da comuna teve que regulamentar, desde o
início, a entrada de víveres. Os administradores municipais esforçaram para
colocar em contacto direto os vendedores (camponeses) e os compradores urbanos.
Para isso, criaram normas que impediam a compra de mercadorias produzida pelos
camponeses, antes que estas chegassem as cidades (mercados). Ao mesmo tempo,
para disciplinar os preços das mercadorias, impediam os padeiros de comprar mais
trigo do que o necessário e aos açougues de conservar carnes nos seus porões.
Se no pequeno comércio, as cidades impediam a participação de
intermediários, no comércio de produtos importados, onde dominavam os grandes
comerciantes, as cidades impunham aos exportadores (os que vendiam seus produtos
nas cidades) os intermediários, que formavam uma “pequena burguesia local”.
A vila satisfazia as necessidades dos seus habitantes e dos
moradores dos arredores. Os camponeses que abastecem as cidades de produtos
agrícolas, adquirem manufaturados que não produzem.
Não bastava disciplinar a venda de produtos agrícolas e os
importados, com a crescente chegada às cidades de ex-servos (encaravam a cidade
como um espaço de liberdade) torna-se necessário disciplinar a profissão de cada
um (carpinteiros, ferreiros, escultores, ferramenteiros, etc.) e, as cidades se
organizam de forma a controlar o número de artesãos em cada profissão e a área
de atuação e os clientes de cada um deles. O que se fez foi evitar a competição,
garantindo a área de trabalho de cada um.Essa é a origem das corporações.
Os mestres (artesãos) são os chefes das oficinas de
manufaturas, são os proprietários das ferramentas e da matéria prima.
Pertencem-lhe a produção e o lucro com a venda desses produtos. Os aprendizes
iniciam-se no ofício sob a orientação dos mestres, e ao terminar a aprendizagem
transformam-se em trabalhadores assalariados. A passagem a mestre é difícil, uma
vez que depende de pagamento de taxas, nascimento legítimo, filiação a
burguesia, etc.
O mestre artesão é um empresário independente, seu capital
corresponde a sua casa e as ferramentas indispensáveis a sua profissão. Seus
empregados são limitados por regulamentação e, mesmo que tivessem capital para
expandir seu negócio, uma rígida regulamentação protegia os outros profissionais
do mesmo ramo.
É evidente que esse sistema de regulamentação não permitia a
expansão dos negócios, e, por isso mesmo, as grandes manufaturas instalaram-se
próximo às cidades, ou, elas mesmos deram origem às cidades, onde o papel das
corporações era menor. É nestas cidades, principalmente nas grandes manufaturas
de tecidos (lã) que o capital se separou do trabalho, ou seja, o investidor é o
dono do capital (das matérias primas, das ferramentas, das instalações e do
produto final) e os trabalhadores, inclusive o mestre artesão, se dedicam ao
trabalho em troca de um salário (normalmente por semanas). É em torno dessas
cidades, menos regulamentadas, que viceja o comércio internacional.
José Tadeu Cordeiro baseou-se em Perry Anderson e Henry
Pirrene
Interpretando o texto
01.O que é a feudalismo? Como era formada a sociedade feudal? Quais suas
características?
02.O que levou ao aumento da produção e da produtividade feudal?
03.Como foi a expansão do comércio e das cidades? Compare a cidade feudal à
cidade grego romano?
04.Como se organizou a cidade para produzir manufaturas? E para se abastecer?
05.Qual a diferença entre as cidades corporativas e as que nasceram das grandes
manufaturas?