Em 1840 o café começara a proporcionar os primeiros saldos na balança comercial. É esse o ano da maioridade.
Quando se utiliza formalmente do príncipe, levando-o
antecipadamente ao trono, a classe senhorial está de posse de condições para
realizar o que pretende. A centralização traduz a ascendência, no conjunto da
classe dominante, dos senhores de terras e escravos ligados à lavoura cafeeira.
A perda de substância na exportação entre 1820-1840 atrasou essa alteração e, é
por isso que no período Regencial, o poder central não chegou a ser exercido na
sua plenitude, surgindo as rebeliões periféricas que resistia ao poder central.
Desde que a fração ligada ao café passava ao primeiro plano, o Estado passava a
ter condições efetivas para exercer sua autoridade.
Em 1834, com o Ato Adicional, o país adotava uma
descentralização que permitia aos senhores de terras a função dominante em suas
áreas, e, com a criação da Guarda Nacional, os senhores de terras investiram-se
do poder militar. Nelson Werneck Sodré, de quem retiramos essas idéias, acredita
que com essa medida, valorizou-se o fracionamento e houve uma evidente dispersão
da autoridade central. No Rio Grande do Sul, os estancieiros tornaram-se chefes
militares oficiais, quando já o eram de fato. Enquanto estiveram absorvidos
pelos seus problemas regionais, tudo correu mais ou menos bem para o centro
(Estado). Quando acreditaram que o centro pretendia arrancar-lhes mais do
estavam dispostos a dar (tributando-os) e, que não os ajudava a resolverem seus
problemas regionais, a ameaça converteu-se em guerra.
A lei reguladora do Ato Adicional podou muito daqueles
poderes, anunciando o predomínio da fração ligada ao café. Ao mesmo tempo o
Estado (centro) criava um instrumento capaz de tornar efetiva sua ação, o
Exército, um poder do Estado central.
As forças externas que atuaram no processo de Independência
das colônias espanholas não se interessavam pela unidade, antes viam com
satisfação o fracionamento dessas áreas. A unidade, no caso brasileiro, foi uma
tarefa interna, realizada com sofrimentos e muitas vezes com sacrifícios de
idealistas. Werneck acredita que foi uma vitória, a última dos senhores
proprietários de terras e escravos.
A nova lavoura (café) representa uma criação original,
brasileira, gerada de condições internas e particularmente, com recursos
internos. Só por isso já anunciava o novo e, o que a distingue é sua capacidade
de aproveitar o que já existe para gerar o novo. O café, um produto novo, numa
região nova (Rio de Janeiro e São Paulo), ensaia seus primeiros passos com os
meios de produção disponíveis, ou seja, aproveitava-se da grande propriedade
agrícola e do trabalho escravo, e volta-se para o mercado externo, dando
continuidade a uma estrutura colonial de produção.
Mas à medida que a produção de café se desenvolve e, com isso
aumenta a necessidade de novos escravos enfrenta a luta abolicionista, que já em
1850 proibia a entrada de novos escravos no país. Progressivamente,
transformam-se as condições de trabalho, dando ensejo à vinda de imigrantes
europeus para trabalharem nas novas regiões dominadas pelo café.
A lavoura cafeeira oferecia margem de coexistência com
lavouras de subsistência, o que permite um surto demográfico e leva a
urbanização ao interior, impulsionando a diversificação de culturas, embora para
consumo interno.
Além das mudanças internas, o café transformou o Estados
Unidos da América no maior consumidor de produtos brasileiros, recebendo mais da
metade das exportações do produto. A Inglaterra, nossa principal parceira
comercial, cujos principais contratos terminaram em 1843, teve incidindo sobre
seus produtos a tarifa Alves Branco, que tributava as importações, uma maneira
que o Império encontrava para melhorar suas finanças. A Inglaterra vai reagir
tributando a entrada de açúcar brasileiro no seu território e em 1845, baixa o
Bill Alberdeen, que permitia aos navios britânicos apresarem navios
transportando escravos, em alto mar. Com essa atitude, os britânicos
transformam-se em vigilantes, unilaterais, da consciência moral do mundo e,a
Inglaterra acelera a decadência açucareira, mas a fração ligada à exportação de
café já é dominante e já está mais voltada ao mercado consumidor norte
americano.
Com a consolidação da classe senhorial no poder (ela que foi
responsável pela independência, realizando-a de conformidade com seus interesses
e com um mínimo de alterações econômicas e sociais), estrutura o aparelho do
Estado para servi-la, quer por imposição do centro, quer por acordos com suas
frações regionais.
Nas áreas tradicionais, com o recuo das lavouras de açúcar e
algodão, houve uma queda no trabalho escravo, criando uma “espécie de servidão”
no campo ou transferindo os trabalhadores, ainda como escravos, para as regiões
cafeeiras.
Os recursos que haviam sido empregados no tráfego de escravos
foram deslocados para a agricultura (cafeeira) e a infra-estrutura (aplicados
principalmente no Rio de Janeiro e nas novas ferrovias, que ligavam os portos –
Santos, as regiões produtoras de café).
O domínio pela classe senhorial está consolidado e a parcela
considerável da renda que permanece no país, a ela se destina.
A área de mais rápido desenvolvimento, a da cafeicultura do
Oeste Paulista, procede à transformação do regime escravocrata pelo colonato,
patrocinando uma imigração em massa dos trabalhadores da Europa (italianos,
alemães, portugueses, espanhóis, etc.) para o Brasil.
O trabalho livre conviveu com o trabalho escravo por duas
décadas, mas uma vez estabelecida à viabilidade financeira do trabalho livre,
cresce a luta abolicionista, que possibilitará a abolição da escravidão em 1888
(Lei Áurea) e, ao mesmo tempo desvincula a classe senhorial da sorte do
Imperador D. Pedro II.
Duas lutas dominaram o Segundo Império: de um lado a luta
abolicionista, encabeçada por homens como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e,
de outro a luta pela República, no início pregada pelos cafeicultores do Oeste
Paulista e, que aos poucos se firmava também entre os oficiais do Exército e das
classes médias.
Com o fim da escravidão (1888) a sorte do trono estava
selada, no ano seguinte, em 15 de novembro de 1889, um golpe, chefiado por
Deodoro da Fonseca, depõe o Imperador e dá inicio a República Brasileira.
José Tadeu Cordeiro baseou-se em Nelson Werneck Sodré,
Formação Histórica do Brasil.
Interpretando o texto
1.Quais as condições do Brasil Regencial? O que permitiu a antecipação da posse
de D Pedro?
2. Explique as contradições entre o “novo” e o “velho” na expansão da lavoura de
café?
3. Quais as mudanças internas produzidas pelo café?
4. Explique as alterações do trabalho provocadas pelas mudanças econômicas
ocorridas no Brasil independente e a luta abolicionista.
5.Quais as mudanças ocorridas com o fim do tráfego escravo?
6. Qual a relação entre as idéias republicanas e abolicionistas e o fim do
Império?