Na Inglaterra o Estado evoluiu da Monarquia Nacional (1066) à Monarquia Absolutista (Tudor-1485) até a monarquia Parlamentar (Revolução Gloriosa-1688).
Essas mudanças decorrem de transformações que ocorreram nos
campos econômicos, sociais e políticos de uma sociedade rural (feudal) que aos
poucos se transforma numa sociedade manufatureira, comercial e por último,
industrial.
No campo econômico, a Inglaterra atravessa no século XV, e
nos seguintes, uma vigorosa expansão manufatureira e mercantil. Os camponeses
são expulsos da terra, num processo conhecido como “cercamentos” onde os nobres
transformam a propriedade compartilhada da terra em propriedades privadas,
cercando-as, para a criação de ovelhas, que exigia poucos trabalhadores,
expulsando da terra uma parcela importante de camponeses, colocando um fim ao
sistema de propriedade feudal.
Os cercamentos possibilitaram a formação de uma nobreza
aburguesada (no sentido de voltar à atividade rural para busca exclusiva do
lucro), que após expulsar os camponeses de suas terras, utilizou-as para a
criação de ovelhas, cuja lã servia de matéria-prima para as manufaturas urbanas.
As manufaturas, por sua vez, utilizava-se da lã e da mão de
obra excedente, proveniente do campo para produzir tecidos, que eram vendidos em
toda a Europa.
No plano político, a nobreza e a burguesia, intimamente
associados em suas atividades econômicas, constituíam o suporte da monarquia
absolutista, implantada na Inglaterra pelos Tudors, em 1485, atingindo o apogeu
durante o governo de Henrique VIII (1509-1546).
Em 1534, após seu pedido de divórcio de Catarina de Aragão
ser rejeitado pelo papa Clemente VII, Henrique VIII proclama-se chefe da Igreja
na Inglaterra, suprimindo as ordens católicas, confiscando suas propriedades e
criando a Igreja Anglicana. A nacionalização da Igreja se fez sem grandes
alterações dogmáticas. Mas Henrique VIII separou-se de Cataria de Aragão e
casou-se com Ana Bolonha.
Com a morte de Henrique VIII (1546) assume o governo o duque
de Somerset (como regente de Eduardo VI) partidário do calvinismo, o que levou a
um aprofundamento de Reforma religiosa na Inglaterra. Eduardo VI morreu em 1553,
deixando o trono para sua meia irmã Maria Tudor, católica, casada com Felipe II,
de Espanha. Com a morte de Maria Tudor (1558), sobe ao trono Elizabeth (filha de
Henrique VIII e Ana Bolonha), que suprimiu o catolicismo e reintroduziu o
anglicanismo como religião oficial na Inglaterra (1558-1603).
É importante perceber que as lutas religiosas intensas são,
também, formas de expressar apoio a monarquia. Os católicos predominavam na
nobreza, apoiavam a monarquia absolutista. Os anglicanos na nobreza e na
burguesia, principalmente aqueles beneficiados com a expropriação dos bens da
Igreja de Roma, apoiavam a monarquia, mas queriam limitar o poder dos monarcas.
Os presbiterianos, mais presentes na grande burguesia e entre os escoceses,
queriam uma monarquia constitucional. Os puritanos, liderados pela pequena
burguesia e pelos trabalhadores de Londres, queriam a República.
James I (1603-1625) procurou fortalecer o absolutismo e
consolidou o anglicanismo, desencadeando ferrenha oposição dos católicos,
calvinistas, que deram início à migração rumo a América do Norte.
Seu sucessor, Carlos I (1625 – 1648) se recusou a jurar o
Bill of Rights que garantia os direitos dos cidadãos (senhores) contra prisões
arbitrárias, principio seguido desde 1215. Enfrentou grande oposição do
Parlamento, que permaneceu a maior parte do tempo sem ser convocado. O
Parlamento se opôs a maiores gastos (maiores impostos) com a tentativa de
anglicanização da Igreja na Escócia. Por isso o Parlamento, convocado em 1637,
para votar o aumento das despesas, foi dissolvido uma semana após. Novamente
convocado para autorizar o aumento de despesas, em 1640, agora para enfrentar
uma revolta católica na Irlanda, aumentam as divergências do governo monárquico
com o Parlamento e, a tentativa de dissolve-lo novamente, lança a Inglaterra
numa guerra civil.
A guerra civil assume um caráter religioso, alinhando-se ao
lado do rei os católicos e os anglicanos, enquanto a burguesia puritana se une
ao Parlamento com o apoio dos presbiterianos escoceses e da população urbana de
Londres.
Em 1644, Oliver Crowwell assumiu o comando do exército
puritano, radical e republicano (Parlamento), reorganizou-o obtendo importantes
vitórias, que culminou com a prisão do rei Carlos I. Divergências internas (os
puritanos eram a favor da República, enquanto os presbiterianos eram a favor da
monarquia constitucional), permitiu a fuga do rei. Em 1648, Crowwel derrotou o
exército real e levou Carlos I a julgamento por traição. O rei foi julgado,
condenado e decapitado, dando início a República Puritana (1648-1659).
A República reprimiu com violência a rebelião católica na
Irlanda, massacrando os revoltosos e distribuindo suas terras entre protestantes
ingleses, dando início a uma luta que permanece atual.
Em 1651, Crowwell editou os Atos de Navegação, reservando aos
navios de bandeira inglesa o transporte de mercadorias procedentes ou destinadas
à Inglaterra. Esta medida consolidou o interesse naval inglês, prejudicando seus
concorrentes holandeses.
Em 1653, Crowwell derruba o Parlamento, instaurando o
Protetorado (ditadura), com o apoio do Exército e a complacência da burguesia,
amplamente beneficiada em seu governo.
Em 1659, com a morte de Crowwel, assume seu filho Ricardo,
que não conseguiu levar adiante seu governo e renúncia no ano seguinte. A
monarquia é restaurada, com Carlos II (filho de Carlos I, executado pelos
puritanos) assumindo o poder (1660 -1685). O rei é simpático aos católicos (ele
foi educado na França, católica e absolutista) o que prejudicou sua relação com
o Parlamento, que lhe impôs vários revezes, como a criação do hábeas corpus (uma
das maiores conquistas do cidadão) e de uma lei que impedia os católicos de
assumir cargos no governo (uma retaliação, uma vez que o próprio rei era
católico).
Com a morte de Carlos II, assumiu o poder seu irmão James II,
aumentando a crise do rei com o Parlamento. O rei tentou restaurar o absolutismo
e o catolicismo na Inglaterra, o que explica a ferrenha oposição do Parlamento.
Em 1688, o Parlamento convida Guilherme de Orange, casado com a filha de James
II, para assumir o trono inglês. Anticatólico e antifrancês, Guilherme de Orange
desempenha o papel que lhe impõem a burguesia inglesa, jurando a Declaração de
Direitos (1689) e consolidando a Monarquia Constitucional.
Em 1714, Jorge I assume o trono (sucedendo a Ana, filha de
Guilherme de Orange), dando inicio a dinastia de Hanover, que criou a base do
que viria a ser a Monarquia Parlamentar moderna. Com ele, a maioria parlamentar
tornou-se requisito indispensável para a formação do Ministério, que por sua vez
era presidido por um primeiro-ministro.
Concluindo, a Revolução Gloriosa representa uma solução de
compromisso entre a nobreza e a burguesia, isto porque a evolução do capitalismo
na Inglaterra, possibilitou um aburguesamento da nobreza ao mesmo tempo em que
permitia um enobrecimento da burguesia, o que levou a uma conciliação de seus
interesses, condições que não se repetiram, por exemplo, na França do século
XVIII.
No plano econômico, a Revolução Gloriosa criou as condições
para a substituição do mercantilismo pelo liberalismo econômico. A ascensão da
burguesia ao poder possibilitou a liberação da economia dos entraves econômicos
do mercantilismo. Assim, as forças produtivas do capitalismo inglês, livre do
intervencionismo estatal, do protecionismo alfandegário, da regulamentação da
produção e dos monopólios coloniais, puderam expandir-se plenamente, num regime
de livre concorrência.
Interpretando o texto
1ª Procure estabelecer uma relação entre os grupos religiosos, as classes
sociais e as suas representações políticas durante as guerras civis?
2ª Porque afirmamos que as lutas deste período, na Inglaterra, não são só
religiosas?
3ª Explique a origem da República Puritana? Quais as principais iniciativas de
Crowwel?
4ª Como se forma a Revolução Gloriosa? Qual o sentido dessa revolução?
5ª Como funciona a Monarquia Parlamentar (moderna)?