 |
ALEX CAMPOS
Ter calma, ser generosa, rir à vontade, passear com o bebê, curtir o ar livre e saber dizer "não", segundo especialistas, são algumas das 99 dicas fundamentais para qualquer pessoa interessada em chegar aos 99 anos. A lista dos principais cuidados e atitudes que tem a tomar quem sonha com a longevidade foi publicada pela El País Semanal. A revista espanhola baseou-se em dados da Organização Mundial de Saúde, estudos da Universidade Johns Hopkins (EUA), pesquisas da Academia Americana de Ciências, relatórios da Universidade de Miami, reportagens da New England Journal of Medicine e entrevistas com médicos de várias áreas.
Além de recomendações notórias e evidentes - consumir frutas, legumes, verduras, peixe, leite e carne (apenas 200 gramas por semana) -, há indicações de uma série de curiosidades que, se não fizerem bem, certamente não vão deixar ninguém de cama nem encurtar essa breve história no tempo, que é a vida. Convencidos de que todos os serem humanos nascem com potencial para viver até os 120 anos, profissionais de diversas formações garantem que, para se aproximar dessa eternidade, não basta evitar o cigarro, a fritura e o colesterol desequilibrado, tampouco o sol, o sal e o açúcar em excesso.
Bondade - Fora os hábitos alimentares e os vícios destrutivos, o primeiro grande conselho é cultivar a tranqüilidade, mas de forma natural, espontânea, sem Lexotan, Prozac e outras drogas. Psiquiatras advertem que, a médio prazo, esses estimulantes ou relaxantes trazem efeitos colaterais que desestruturam o metabolismo. Garantem que é possível domar a raiva e inibir o estresse a partir da reeducação do cérebro e do (mau) comportamento. "O mais importante é saber detectar certas condições, como a ansiedade. Tratar a ansiedade, por exemplo, favorece a vida longa", confirma o psiquiatra Márcio Versiani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Os especialistas também receitam bondade e solidariedade para quem deseja viver mais e melhor - nada de inveja, egoísmo ou rancor. Explicam que uma dose de generosidade com o próximo tem efeitos revigorantes para a alma, com benefícios imediatos e comprovados para a mente e o corpo. A satisfação de se sentir útil, afirmam, é mais eficiente que muitos tratamentos. Permite que a pessoa deixe de se fixar em si mesma, em suas angústias, seus problemas e seus fantasmas - uma espécie de auto-flagelo que, muitas vezes, resulta em depressões irreversíveis.
Quem ainda duvidava de que "rir é o melhor remédio" tem mais uma razão científica para mudar de opinião. Terapeutas ouvidos pela revista do El País confirmam que o riso é um produto vitaminado da alegria, que proporciona bem-estar físico e químico. Sempre que se dá um pequeno sorriso ou uma boa gargalhada, o cérebro libera endorfinas, estimulantes naturais que trazem sensação prolongada de prazer. Por isso, é cada vez mais comum ver hospitais abrindo suas portas a palhaços ou humoristas para alegrar os enfermos. "Como nem sempre podemos rir, o importante é ter uma postura otimista diante dos fatos", diz Marcos Gebara, estudioso de neurose urbana.
Recém-nascidos - Geriatras e pediatras concordam que quando a mamãe (ou o papai) passeia com o bebê faz bem à saúde dos dois. Uma saída diária, à luz do sol (entre 7h e 10h), contribui bastante para a fabricação de vitamina D, essencial na formação e resistência dos ossos. Dizem ainda que, quanto mais tempo o adulto passa com a criança, melhor para seu rejuvenescimento, já que sem perceber ele alivia a cabeça, as costas e os ombros desses aborrecimentos de gente grande que os pequenos desconhecem. "Além de ajudar a aliviar as tensões, o convívio dos pais com os filhos faz com que o núcleo familiar fique mais coeso", diz Gebara.
Não só o contato com recém-nascidos, mas também com a natureza, revitaliza muito o espírito. Aproveitar o ar livre - praias, praças, serras, campos, florestas - ajuda a esquecer as preocupações e, de fato, encontrar soluções para algumas delas. Além de idéias arejadas, há ganhos pulmonares que valem por um cilindro de oxigênio.
Dizer "não" é mais que uma arte e é recomendado por psicólogos e neurologistas. Não se trata de ser sempre do contra - contra tudo e contra todos -, mas de reivindicar direitos, valorizar sentimentos, exercitar o senso crítico e mostrar capacidade de indignação nas horas certas. "A pessoa que sabe colocar limite com tranqüilidade tem uma probabilidade maior de viver mais. Além de se tornar mais confiante e assertiva, não vive em função dos outros", diz Versiani. Os especialistas entendem que manifestar opinião própria, caráter inflexível e personalidade original é ato auto-estima benéfico para o equilíbrio mental. Significa que a pessoa tem amor próprio e é particularmente feliz e confiante, virtudes obviamente bem-vindas.
Amigos - Cercar-se dos amigos é outra dica vital. Depois da família (não necessariamente dos parentes), os amigos representam o núcleo de relacionamento mais querido e saudável. A admiração mútua, a troca desinteressada de idéias e o sentimento sincero de desprendimento que os amigos fazem aflorar não podem ser encontrados em consultório algum. Pessoas que se reúnem há 10, 15 anos, para jogar futebol, lembrar dos bons tempos da faculdade ou simplesmente renovar os laços afetivos, segundos cardiologistas, têm seus corações lubrificados pelos efeitos químicos das histórias alegres que emergem da memória. Os amigos são nossos aliados contra o tédio e a solidão.
Ter fé também é revigorante - além de operar milagres e remover montanhas. Não quer dizer que a pessoa tenha que se tornar refém de uma religião. Recomenda-se a crença em algo ou alguém, mesmo que seja terreno. O importante é se dar a chance de, em caso de emergência, obter a cura espontânea - sim, esse fenômeno que, volta e meia, socorre um felizardo, sem que a ciência consiga explicar.
Mas atenção! A centésima dica pode valer por todas: prudência. Convém olhar para os dois lados antes de atravessar a rua.
1 - Abusar das frutas e verduras frescas e bem lavadas
2 - Evitar alimentos com aditivos.
3 - Limitar a quantidade de excitantes, como a cafeína.
4 - Variar na dieta - variedade é sempre melhor que quantidade.
5 - Tomar iogurte, alimento que fortalece as defesas orgânicas.
6 - Incluir na dieta vegetais ricos em cálcio, o que ajuda a prevenir osteoporose e câncer.
7 - Comer carboidratos. Os encontrados em vegetais e cereais são acrescidos de vitamina E, que ajuda a enfrentar o envelhecimento.
8 - Aumentar a ingestão de fibras, que facilitam o trânsito intestinal.
9 - Trocar fritura pelo vapor.
10 - Moderar a ingestão de carne e retirar a gordura ou a pele.
11 - Substituir suplementos vitamínicos por alimentação rica.
12 - Comer alimentos com muita vitamina A, C e E, sais minerais e beta-caroteno, que previvem a oxidação das células.
13 - Tomar leite diariamente, para fortalecer os ossos.
14 - Recorrer a alimentos enriquecidos com estanol esterificado, se não for possível reduzir o mau colesterol com dieta.
15 - Tomar sol - fonte de vitamina D - mas só com protetor solar, antes das 11h e após as 15h.
16 - Respirar ar livre e descontaminado periodicamente.
17 - Dizer não em vez de anular-se, que é fundamental para o equilíbrio psicológico.
18 - Acertar nos aperitivos. Frutos secos são ricos em fibras, proteínas, ferro, vitaminas e cálcio.
19 - Rir muito - ajuda a liberar substâncias que aumentam a sensação de bem-estar.
20 - Comer peixe toda semana.
21 - Se planejar engravidar, procurar um médico para exames.
22 - Mulheres que achar estar grávidas não devem tomar qualquer remédio sem consulta médica.
23 - Conversar com o bebê na barriga.
24 - Pensar em ter um filho em casa, com assistência médica.
25 - Amamentar no peito.
26 - Acrescentar paulatinamente novos ingredientes à dieta infantil. As crianças são mais propensas a alergias alimentares.
27 - Detectar precocemente e controlar a asma.
28 - Passear diariamente com o bebê ao ar livre. Isso dará a ele e aos pais ossos mais fortes.
29 - Preferir massas integrais a doces: engordam menos e saciam mais.
30 - Fazer o que diz. A boa maneira de corrigir os maus hábitos de outros é dar exemplo.
31 - Ingerir álcool e sal em quantidades pequenas. O cigarro, preferencialmente, abandonar.
32 - Fazer o que gosta. Satisfação com o trabalho interfere na longevidade.
33 - Tirar um tempo para quebrar o ritmo alucinado da vida.
34 - Ter amigos. Solidão e pessimismo estão associados a metade das doenças do coração.
35 - Ter fé.
36 - Ser solidário. Sentir-se útil equilibra emocionalmente.
37 - Usar ou exigir camisinha.
38 - Alimentar o autocontrole em vez do rancor.
39 - Levar a saúde a sério, colaborar com o organismo, que está em luta constante para não ser tomado de assalto por infecções.
40 - Fazer exercícios regularmente. Ao menos 30 minutos, três vezes por semana.
41 - Não viver próximo a linhas de alta tensão. Há evidências de que campos eletromagnéticos causam doenças.
42 - Evitar locais mal ventilados, propícios à acumulação de radônio, um tipo de gás radioativo.
43 - Trocar o gás pela eletricidade ao cozinhar. O CO2 provoca males cardíacos, desencadeia asma e outras reações alérgicas.
44 - Livrar-se do encanamento de chumbo. Água contaminada com ele é má para higiene e para beber.
45 - Não revestir o chão de tapetes, casa boa para ácaros.
46 - Tirar a TV e o computador do quarto, para evitar ao máximo suas ondas eletromagnéticas.
47 - Não abusar de produtos de limpeza que, em superfícies quentes, produzem gases tóxicos.
48 - Arejar a casa para evitar ácaros, fungos e fumaça.
49 - Fazer de sua casa um lugar aconchegante, que convide ao relaxamento.
50 - Instalar corretamente os fios-terra dos aparelhos eletrodomésticos, para evitar choques.
51 - Evitar contraturas musculares dolorosas com boa postura.
52 - Sem problemas de saúde, pensar duas vezes antes de fazer exames perigosos, como de raio-X.
53 - Não ter medo de febre até 38 graus, um sinal de que as defesas orgânicas estão funcionando.
54 - Às mulheres: alivie dores menstruais, problemas circulatórios, resfriados e sintomas da menopausa com infusões de sálvia.
55 - Dar mais líquido a idosos e crianças.
56 - Reconhecer mensagens de alerta que o corpo emite.
57 - Utilizar o soro caseiro para evitar desidratação no calor.
58 - Recorrer a um desumidificador para evitar crises de alergia.
59 - Ingerir fibras, que ajudam a prevenir hemorróidas. Assim como não ficar sentado por muito tempo, moderar temperos e álcool.
60 - Perder peso enquanto a idade não torna isso mais difícil.
61 - Evitar a automedicação.
62 - Antibióticos só com prescrição médica e na dose, freqüência e duração certas.
63 - Só tomar remédios se realmente necessário.
64 - Às lactantes: nunca tomar remédios por conta própria.
65 - Evitar combinar álcool e remédios. A bebida pode inibir o efeito do medicamento.
66 - Ler as bulas dos remédios para evitar efeitos colaterais.
67 - Suspender a medicação e procurar o médico se observar qualquer má reação a um remédio.
68 - Não abusar de analgésicos, ou as doses necessárias a conter a dor serão cada vez maiores.
69 - Evitar efeitos indesejáveis de anticoncepcionais, comprando-os sob prescrição médica.
70 - Redobrar a atenção quando o assunto for medicar o seu filho.
71 - Aos diabéticos: medir regularmente a glicose no sangue e consultar o médico periodicamente.
72 - Às mulheres fora do grupo de risco para câncer de mama: fazer mamografia anual só após os 50 anos.
73 - Às grávidas com mais de 36 anos: fazer amniocentese (retirada de líquido amniótico) para descartar problemas no feto.
74 - Controlar sistematicamente de o colesterol, comparando vários resultados. Indicativos de um só exame podem conduzir a erro.
75 - Recorrer a exame por ressonância magnética somente quando estritamente necessário.
76 - Qualquer que seja o resultado de um teste de HIV, fazer um segundo exame.
77 - Checar a possibilidade de transmitir aos filhos doenças geneticamente herdadas.
78 - Não fiar-se apenas em testes em laboratório na hora para descobrir uma doença. O histórico clínica do paciente é fundamental.
79 - Fazer prova de esforço físico antes de iniciar alguma rotina de exercícios vigorosos. O conselho é especialmente válido para quem tem mais de 35 anos, é hipertenso, fumante ou doença crônica.
80 - Ao hipertenso: aprender a medir a pressão arterial. O médico indicará o método mais adequado.
81 - Controlar o mau colesterol, aumentando a ingestão do bom.
82 - Às mulheres: fazer reposição hormonal na menopausa só com rigoroso acompanhamento médico.
83 - Evitar radiografias. Exposição aos raios-X pode aumentar o risco de ter câncer.
84 - Fazer sexo. Com disposição emocional, uma vida sexual ativa é sempre recomendável.
85 - Aos hipertensos: recorrer à redução do sal na alimentação para diminuir a pressão arterial.
86 - Alimentar-se bem para manter a mente sã: há de esquizofrenia estão relacionados a deficiências nutricionais e reações alérgicas.
87 - Procurar um cardiologista se sentir uma dor no centro do tórax que se estende até os braços. Pode ser sinal de cálculos biliares, espasmos do esôfago, irritações dos músculos do peito ou infarto.
88 - Sair do grupo de risco de problemas cérebro-vasculares, deixando de fumar, controlando a pressão e o peso.
89 - Corrigir a miopia com cirurgia se o grau permitir.
90 - Ignorar fórmulas mágicas para emagrecer. Dietas constantes induzem à depressão.
91 - Inteirar-se sobre os avanços da ciência que facilitam transplantes de medula.
92 - Diagnosticar a síndrome de Down o quanto antes. Cientistas americanos estão descobrindo novas técnicas para isso.
93 - Aos diabéticos - informar-se sobre transplante de células do pâncreas, uma das promessas de tratamento da doença.
94 - Estar atento ao conhecimento do genoma humano, que traz chances de desenvolver remédios personalizados.
95 - Inteirar-se sobre o transplante de células satélites do músculo do miocárdio, técnica promissora para recuperar área afetada por infarto.
96 - Acompanhar a evolução dos remédios contra o câncer. Há vacinas experimentais promissoras.
97 - A quem tem o HIV: seguir a terapia combinada, que reduziu 80% o número de mortes por Aids em alguns países.
98 - Estar por dentro das experiências que buscam soluções para o mal de Alzheimer, o de Parkinson e outras doenças neurológicas.
99 - Acompanhar as pesquisa sobre clonagem terapêutica de células. Cientistas da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, descobriram como cultivar células de embriões para gerar pele, osso, músculo e cartilagem.
Há motivos para se acreditar que ler, escrever, caminhar, pedalar e administrar grandes negócios contribuem para a realizar o sonho de ter vida longa e prosperidade. Ajudam a esticar a idade - não as canelas.
O escritor Dias Gomes, por exemplo, já tem 60 anos de profissão, mas seria barrado pelo motorista do ônibus em que tentasse entrar pela frente (o que é permitido para maiores de 65 anos). O problema é que Dias não perde a cara de cinqüentão, apesar de já ter 77 de vida. Casado com mulher nova, bonita e carinhosa, Dias tem um filho de 8 anos, mais moço do que seu neto de 12.
A saúde de João Havelange, ele mesmo diz, se deve a exercícios regulares que incluem caminhadas e natação. Ao longo de 38 anos, o homem trabalhou para transformar a Fifa, a federação mundial de futebol, numa organização mais representativa do que as Nações Unidas, que tem menos países-membros. Com 83 anos, Havelange não pendurou as chuteiras. Ainda arranjou fôlego para driblar Pelé e deixar seu cargo para o aliado Joseph Blatter, em vez de um rival, como queria o rei.
Outro administrador, Roberto Marinho, tem mais de 70 anos só de jornal, mais de 50 de rádio e mais de 30 de TV. Construiu um dos maiores impérios de comunicação do mundo, as Organizações Globo, sem deixar de dedicar horas e horas ao lazer no fundo do mar. Para justificar a boa forma e a longevidade, Roberto Marinho gosta de lembrar que sempre praticou caça submarina. É um senhor orgulhoso de seus 93 anos.
O mais experiente desses garotões é Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, que completou 102 anos no mês passado. O eterno presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) tem seu nome no Livro Guinness de Recordes como o jornalista mais velho em atividade no mundo. A vitalidade de Barbosa Lima poderia estar relacionada aos 70 livros que já escreveu (como Dias Gomes, é homem das letras), mas vem das "400 pedaladas" a que ele se dedica "quatro ou cinco vezes por semana". (A.C)