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As Três "Mortes" das Estrelas
Texto: Walter J. Maciel - IAG/USP
Imagens: Internet
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As estrelas parecem ser eternas mas não são. Elas nascem, vivem e morrem. Até mesmo o Sol, que é uma estrela (e não das maiores), um dia também vai acabar. Um dia daqui a cinco bilhões de anos... Com telescópios poderosos e a ajuda de observatórios espaciais, os astrônomos conseguem ver as transformações das estrelas. E descobriram, entre outras coisas, que quando olhamos para o céu, uma parte das estrelas que vemos já morreram há muito tempo. A sua distância de nós era tão grande que, quando a luz que emitiram chega até aqui, elas mesmas já não existem.
As estrelas "nascem", ou seja, formam-se
quando uma enorme nuvem de gás começa a se concentrar, ficando cada vez menor e
mais quente. As partes mais externas da nuvem começam, então, a cair em direção
ao centro. Esse "nascimento" pode levar um milhão de anos, o que não é muito
tempo quando se fala de estrelas.
Depois disso, a parte interna da nuvem fica tão quente que se
transforma num enorme reator nuclear, quer dizer, uma verdadeira fábrica de luz.
A nuvem original era composta principalmente de hidrogênio, um gás muito comum
no Universo, inclusive em nosso planeta, onde se encontra, por exemplo, na água.
O hidrogênio é o principal combustível do reator nuclear que existe dentro da
estrela. Ele produz a energia que faz brilhar o Sol e as milhares de estrelas
que vemos no céu.
Começa aí a parte mais longa da "vida" da estrela. É um período que pode durar
muitos bilhões de anos. Depois desse tempo, o combustível acaba e a estrela
começa a "morrer". Ela ainda pode usar outros combustíveis, como o hélio, aquele
gás que faz os balões ficarem bem leves. Mas isso só aumenta um pouquinho a vida
das estrelas.
Agora, tem uma coisa: as estrelas não morrem todas do mesmo jeito, nem a duração
da vida é a mesma para todas elas. As maiores e mais "pesadas" gastam mais
rapidamente seu combustível e por isso duram muito menos, apenas alguns milhões
de anos. Assim, dependendo da quantidade de massa que têm, as estrelas podem
morrer de três maneiras diferentes.
"Gordas", "Magras" e
"Gigantes"
Depois que a estrela se forma e durante a maior parte de sua vida, seu tamanho não aumenta nem diminui. O Sol, por exemplo, está mais ou menos do mesmo tamanho há alguns bilhões de anos. Mas quando acaba o combustível, as coisas começam a mudar: desligado o reator, a estrela não consegue suportar mais o peso das camadas que estão perto do centro. Essas camadas acabam desabando sobre o centro. Isso faz aumentar a temperatura e a produção de energia, a ponto de empurrar para fora as camadas externas da estrela, que fica inchada e menos quente na superfície. É nesse estágio que ela recebe o nome de estrela gigante vermelha. Uma estrela assim é Betelgeuse, da constelação de Órion, que fica perto das Três Marias.
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Se a estrela for das mais "magrinhas", mais ou menos como o Sol, ou um pouco
mais pesada, ela começa a tremer, a tremer, até expulsar de uma vez só toda sua
camada externa. Vocês estarão pensando: mas como é que os astrônomos sabem
disso? Acontece que essa camada se espalha lentamente pelo espaço, aumentando
cada vez mais de tamanho e adquirindo um brilho intenso. Isso pode ser observado
num telescópio. Nessa fase, a estrela é uma nebulosa planetária, um dos corpos
mais bonitos do céu.
Enquanto isso, a parte interna da estrela vai ficando cada vez menor. Primeiro,
ela é a estrela central da nebulosa planetária. Depois, transforma-se numa anã
branca , uma estrelinha quente e muito densa: uma colherinha cheia com o
material que forma essa estrela pesaria algumas toneladas! Sem combustível, a
anã branca vai esfriando aos poucos, até se transformar em anã negra, que é uma
espécie de cinza de estrelas. A anã negra é pequena e praticamente invisível. Os
restos de objetos muito menores que o Sol e que não chegam a ser estrelas são
chamados de anãs marrons.
Uma Explosão
Espetacular
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Se a estrela for mais "gordinha", digamos, oito vezes mais pesada que o Sol, sua
morte é mais violenta e espetacular. Esgotado o combustível, ela também fica
instável e sofre as mesmas tremedeiras que as outras. Mas a matéria é tanta que
a queda sobre o núcleo é muito violenta. A estrela pode até acabar explodindo,
formando uma supernova: a parte externa é expulsa violentamente para o espaço,
enquanto a parte interna - o núcleo - fica tão pequena e densa que uma
colherinha desse material pesaria milhões de toneladas.
Esse núcleo é chamado estrela de nêutrons. Ele gira muito rapidamente,
produzindo ondas de rádio e de luz. Por causa desse movimento de rotação, o
brilho da estrela aumenta e diminui, como se fosse aquela luz que fica no teto
de uma ambulância ou nos carros de polícia. Essa fonte de luz intermitente é
conhecida pelo nome de pulsar.
Supernova | Estrela de Nêutrons (arte) |
Quando uma supernova explode, onde antes havia apenas uma estrela fraquinha, aparece, no céu, uma estrela muito brilhante. Esse fenômeno é raro, pois não são tantas as estrelas "gordinhas". Por isso, os astrônomos estão sempre esperando ansiosamente por uma explosão dessas. No início de 1987 surgiu uma supernova na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia próxima da Via Láctea, bem menor do que ela, e que pode ser vista em noites estreladas, perto do Pólo Sul.
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"Engolidas" pelos Buracos Negros
E se a estrela for mesmo muito "gordona", trinta vezes mais pesada que o Sol, ou
ainda mais? Nesse caso, quando acaba o combustível, as partes externas caem
sobre o núcleo de uma forma violentíssima. Na verdade, a atração em direção ao
núcleo é tão forte que nada consegue escapar, nem mesmo a luz. Como a luz não
escapa, esse corpo é escuro. Por isso, recebe o nome de buraco negro.
E como podemos observar um buraco negro? Isso é muito difícil, mas, para
felicidade dos astrônomos, muitas estrelas nascem aos pares, ou até mesmo em
grupos maiores, como se fossem gêmeas. Assim, se o buraco negro se formar perto
de outra estrela, ele vai acabar engolindo pedaços dessa estrela. Ao cair em
direção ao buraco negro, esses pedaços se aquecem muito e formam um disco.
Produzem, então, raios-X, aquela mesma radiação que atravessa nosso corpo quando
tiramos uma radiografia, e que permite ao médico ver ser estamos com um osso
quebrado. Observando esses raios-X, os astrônomos podem saber da existência dos
buracos negros, mesmo que estes não possam ser vistos diretamente.
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Um buraco negro "sugando" a matéria de uma estrela próxima |
Já sabemos o que acontece com as estrelas "magrinhas", "gordinhas" e "gordonas". Mas e se estrela for muito "magricela", umas dez vezes mais leve que o Sol? Algumas podem ser tornar anãs brancas, ma as bem pequenas jamais se aquecem o suficiente para que se transformem em fábricas de luz. Podem alcançar o tamanho de planetas, mas não são estrelas. Não chegam a nascer e, por isso, não morrem nunca.